Leia com atenção o trecho do documento do século XVI e responda às questões:
Aplicando as sobreditas razões às obras tão prejudiciais que àquelas gentes faziam os portugueses, que não passavam de guerras cruéis, matanças, cativeiros, totais destruições e aniquilamentos de muitas povoações (de gentes em sossego em suas casas e pacíficas), infalível condenação de muitas almas que eternamente pereciam sem remédio, que nunca os combateram nem lhes fizeram injúria ou Guerra, que nunca injuriaram ou prejudicaram a fé cristã nem jamais pensaram impedi-la e aquelas terras de boa-fé possuíam, pois nunca a nós nos despojaram, nem sequer nenhuns dos seus predecessores, pois, sendo eles confins da Etiópia, tão distantes vivem dos mouros que por cá nos fatigam e daquelas terras não há escritura nem memória que aquelas gentes as tenham usurpado à Igreja, com que razão ou justiça poderão pois justificar ou desculpar aquilo que fizeram os portugueses: tantos males e ofensas, tantas mortes e cativeiros, tantos escândalos e perdição de tantas almas como naquelas pobres gentes, ainda que fossem mouros? Só por serem infiéis? Grande ignorância e condenável cegueira foi esta
certamente. (...).
Aplicando as sobreditas razões às obras tão prejudiciais que àquelas gentes faziam os portugueses, que não passavam de guerras cruéis, matanças, cativeiros, totais destruições e aniquilamentos de muitas povoações (de gentes em sossego em suas casas e pacíficas), infalível condenação de muitas almas que eternamente pereciam sem remédio, que nunca os combateram nem lhes fizeram injúria ou Guerra, que nunca injuriaram ou prejudicaram a fé cristã nem jamais pensaram impedi-la e aquelas terras de boa-fé possuíam, pois nunca a nós nos despojaram, nem sequer nenhuns dos seus predecessores, pois, sendo eles confins da Etiópia, tão distantes vivem dos mouros que por cá nos fatigam e daquelas terras não há escritura nem memória que aquelas gentes as tenham usurpado à Igreja, com que razão ou justiça poderão pois justificar ou desculpar aquilo que fizeram os portugueses: tantos males e ofensas, tantas mortes e cativeiros, tantos escândalos e perdição de tantas almas como naquelas pobres gentes, ainda que fossem mouros? Só por serem infiéis? Grande ignorância e condenável cegueira foi esta
certamente. (...).
LAS CASAS, Bartolomé de. Brevíssima relação da destruição de África . Edições Lisboa: Antígona, 1996, p. 325-326
a) Nas justificativas dos conquistadores para a escravização de africanos e indígenas, utilizou-se o conceito de guerra justa. Defina esse conceito.
b) A partir do documento, aponte duas características da ação dos conquistadores portugueses em África no início da época Moderna.
c) Explique a diferença entre escravidão e escravismo.
b) A partir do documento, aponte duas características da ação dos conquistadores portugueses em África no início da época Moderna.
c) Explique a diferença entre escravidão e escravismo.
a) Questão formulada erroneamente, pois a expressão “guerra justa” compreenderia duas interpretações distintas no tempo e no espaço: a primeira, à qual o texto se refere, foi praticada pelos portugueses contra as populações africanas, sob o pretexto de salvar suas almas por meio da conversão ao cristianismo (“impulso salvífico”, de base ideológica e religiosa); a segunda, que não é sequer mencionada no texto transcrito, tinha origem jurídica e foi aplicada na América Portuguesa contra as populações nativas, reconhecendo a legitimidade de se fazerem guerras de escravização como forma de reação a ataques praticados contra os colonizadores.
b) Guerras de destruição das populações africanas e também escravização desses grupos.
c) “escravidão” era uma característica cultural e jurídica das populações africanas, que a prati cavam como forma de compensação por alguma transgressão grave ou por captura em guerra, sem que essa prática influenciasse o sistema econômico. Já o “escravismo” tinha um viés nitidamente mercantil, fosse pelos lucros propi ciados pelo tráfico, fosse pela utilização de mão de obra cativa como base do sistema produtivo.