Não é preciso uma grande arte, uma eloquência muito rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar-se uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso considerar todos os homens como nossos irmãos. O quê! O turco, meu irmão? O chinês? O judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não somos todos filhos do mesmo Pai e criaturas do mesmo Deus? Penso que poderia surpreender a obstinação de alguns líderes religiosos se lhes falasse: “Escutem-me, pois o Deus de todos esses mundos me falou: há novecentos milhões de pequenas formigas como nós sobre a terra, mas apenas o meu formigueiro é bem-visto por Deus; todos os outros lhe causam horror desde a eternidade; meu formigueiro será o único afortunado, e todos os outros serão desafortunados”. Eles me agarrariam então e me perguntariam quem foi o louco que disse essa besteira. Eu seria obrigado a responder-lhes: “Foram vocês mesmos”. Procuraria em seguida acalmá-los, mas seria bem difícil.
(Voltaire. Tratado sobre a tolerância [originalmente publicado em 1763], 2015. Adaptado.)
Qual foi o nome atribuído ao mais importante movimento filosófico francês do século XVIII? Explique a importância do texto de Voltaire para o desenvolvimento desse movimento filosófico e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia da ONU em 1948.
Iluminismo foi o nome atribuído ao mais importante movimento filosófico francês de oposição ao Antigo Regime, ocorrido no século XVIII.
Dentre vários pensadores, destacou-se Voltaire, por sua defesa à liberdade de expressão, expressa na própria liberdade de opiniões religiosas, como apresentado no texto base da questão.
A proteção às liberdades individuais, objeto de reflexão pelos iluministas e que se tornou um dos fundamentos da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, passou por considerável expansão no século XX, pós-Segunda Guerra Mundial.
Com a criação da ONU, e em um contexto de universalização dos direitos de cidadania a todos os seres humanos, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.