(UNESP 2016) - QUESTÃO

Texto 1

Sócrates – Ao atingir os cinquenta anos, os que tiverem se distinguido em tudo e de toda maneira, no seu agir e nas ciências, deverão ser levados até o limite e forçados a elevar a parte luminosa da sua alma ao Ser que ilumina todas as coisas. Então, quando tiverem vislumbrado o bem em si mesmo, usá-lo-ão como um modelo para organizar a cidade, os particulares e a sua própria pessoa, pelo resto da sua vida. Passarão a maior parte do seu tempo estudando a filosofia e, quando chegar sua vez, suportarão trabalhar nas tarefas de administração e governo, por amor à cidade, pois que verão nisso um dever indispensável. Assim, depois de terem formado sem cessar homens que lhes sejam semelhantes, para lhes deixar a guarda da cidade, irão habitar as ilhas dos bem-aventurados.

Glauco – São mesmo belíssimos, Sócrates, os governantes que modelaste como um escultor!

(Platão. A República, 2000. Adaptado.)

Texto 2

Origina-se aí a questão a ser discutida: se é preferível ao príncipe ser amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma e outra coisa; porém, como é difícil unir, a um só tempo, as qualidades que promovem aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se veja obrigado a falhar numa das duas. Os homens costumam ser ingratos, volúveis, covardes e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas benefícios, todos estão contigo. Todavia, quando a necessidade se aproxima, voltam-se para outra parte. Os homens relutam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, pois o amor se mantém por um vínculo de obrigação, o qual, mercê da perfídia humana, rompe-se sempre que for conveniente, enquanto o medo que se incute é alimentado pelo temor do castigo, sentimento que nunca se abandona

(Maquiavel. O Príncipe, 2000. Adaptado.)

Considerando os conceitos filosóficos de “idealismo”, “metafísica” e “ética”, explique as diferenças entre as concepções de política formuladas por Platão e por Maquiavel.

Resolução:                                                                                                                                     
Em Platão há uma concepção política na qual o governo de uma cidade deve ser atribuído a governantes (filósofos-reis) os quais passam suas vidas voltadas ao exercício filosófico. A metafísica platônica consiste em propor e estimular, na vida política, afastar-se do sensível, isto é, das emoções e das paixões que fazem os homens tornar-se volúveis e gananciosos, e, em contrapartida, elevar-se ao mundo inteligível, em que alçam uma visão mais ampla e racional. Eis o idealismo platônico, no qual se busca o igual a si mesmo, o belo e o bem. Surge, desse modo, uma concepção ética em que o governante é amado e prestigiado por todos.
Já em Maquiavel, afirma-se uma concepção contrária à ética platônica, pois o príncipe não deve ser amado, e sim temido. Segunda tal noção o governo almeja permanecer no governo por interesses próprios e não pelo bem da cidade. Se o idealismo platônico busca o ideal, tanto no exemplo dado pelo governante, como pelo ideal ético voltado para o bem, Maquiavel considera o homem, por natureza, pérfido e avarento. De acordo com o pensador, o homem não evolui, a partir de um exercício filosófico. A concepção metafísica que influencia essa concepção política é aquela em que Maquiavel assume os fatos como são. Trata-se, portanto, de uma concepção realista.