O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens desse povo, bem como seus valores básicos. As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais são explicadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)
A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico da Grécia clássica diferenciou-se do pensamento mítico.
O pensamento filosófico que surgiu no período clássico da Grécia antiga diferencia-se do pensamento mítico em diversos aspectos, dentre os quais destacam-se a individualidade, a fundamentação e o caráter não sobrenatural.
Se os mitos se baseiam em tradições transmitidas oralmente sem autores específicos, surgem naquele momento diversas escolas de pensamento, normalmente relacionadas a indivíduos como Parmênides e Pitágoras. Além disso, enquanto o mito não se justifica, a nova concepção de mundo se fazia acompanhar de demonstrações e argumentos, sujeitos ao debate público. Por fim, as explicações mitológicas recorriam a realidades exteriores ao humano e ao natural, das quais as explicações filosóficas procuravam abrir mão, recorrendo à natureza e à realidade humana.