Na década de 1980, um aspecto relevante do processo de construção da AIDS foi a localização de sua
origem em territórios distantes. Mais uma vez se observa a atualização de antigas formas com as quais
coletividades inteiras lidam com eventos, particularmente doenças, desconhecidos. Formas estas que
geralmente incluem componentes racistas, religiosos e xenofóbicos.
O surto de sífilis que acometeu a Europa no final do século XV, por exemplo, foi atribuído ao processo de
navegação e ao corpo doente e poluído do indígena.
Na história dos primeiros anos da AIDS, o continente africano foi apontado como um dos grandes
responsáveis pela devastadora enfermidade. A descoberta de organismos semelhantes ao HIV em
macacos desencadeou ondas especulativas nas quais o racismo pouco se escondia.
(Adaptado de João Bôsco Hora Góis, Aids, Liberdade e Sexualidade, em Samantha Viz Quadrat (org.) Não foi tempo perdido: os anos
80 em debate. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014, p. 230.)
a) Explique por que enfermidades como AIDS e sífilis contribuíram para a produção de preconceitos.
b) A década de 1980 foi o período de uma transição política no Brasil. Descreva dois aspectos dessa
transição.
a) O espanto e a virulência causados pela irrupção
dessas enfermidades em populações até então não
atingidas por elas, somadas ao desconhecimento
acerca de sua origem e propagação, levaram as
comunidades afetadas a atribuir tais flagelos a
povos considerados inferiores por força de antigos
pre conceitos etnoculturais, ou a grupos discriminados em função de seu comportamento.
b) Esgotamento do modelo autoritário criado pelo
regime militar, levando o próprio governo a iniciar
a abertura política, ainda que “lenta, gradual e
segura”; e crescente participação popular em prol
da redemocratização (pressão aumentada pelo
agravamento da crise econômica), tendo como
ponto alto o movimento das “Diretas Já” e se
estendendo até a promulgação da “Constituição
Cidadã” de 1988.