Leia os versos de Alberto Caeiro
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.
(O guardador de rebanhos e outros poemas, 1997.)
a) Alberto Caeiro é um heterônimo. Em que consiste o processo da heteronímia?
b) Uma característica de Caeiro encontrada no poema é o Sensacionismo. Em que consiste o Sensacionismo de Caeiro?
a) Heteronímia é o processo de invenção poética utilizado por Fernando Pessoa (1888-1935). Consiste na criação de personagens-poetas de grande vivacidade, cada um dos quais com estilo, temática e biografia próprios. Os mais importantes heterônimos da obra de Fernando Pessoa são o camponês Alberto Caeiro, o médico Ricardo Reis e o engenheiro Álvaro de Campos.
b) O Sensacionismo de Alberto Caeiro é a valorização da sensação como forma conhecimento. Para o heterônimo, só é considerado verdadeiro aquilo que os nossos sentidos mostram. No texto apresentado, a visão é a sensação privilegiada, como se percebe na utilização de várias palavras relacionadas a “ver”. Caeiro, portanto, desvaloriza o conhecimento intelectual, mostrando que para uma existência humana plena basta a mera percepção da concretude das coisas.